A 8ª edição de Human Entities, a cultura na era da inteligência artificial, uma iniciativa do grupo artístico CADA, regressa a Lisboa em maio e junho de 2024, com um programa de conversas públicas focado na mudança tecnológica e nos seus impactos, nas formas como a tecnologia e a cultura se influenciam mutuamente.
Tentativas para definir inteligência partem, na sua maioria, da ideia de que se trata de um domínio distintamente humano. Mas se alargarmos o nosso quadro de referência e considerarmos a resolução de problemas não como um atributo humano, mas um presente em graus variáveis nas diferentes formas de vida e, em potência, nos sistemas artificiais, começamos a reconhecer inteligências em todo o lado.
A ciência estabeleceu recentemente que as plantas possuem cognição. Trata-se de uma alteração profunda, embora continue a ser controversa. Esta descoberta destabiliza a visão ocidental do mundo que separa a natureza (enquanto domínio dos processos biológicos) da cultura (enquanto domínio da atividade e da inteligência humanas) e significa que a dicotomia convencional entre natureza e cultura é errónea. Esta divisão categórica não reconhece as interconexões matizadas entre o habitat não-humano e as sociedades humanas. Na prática, criamos relações mútuas com diversas entidades, cada uma com a sua própria agência – desde seres vivos a objetos tecnológicos.
No entanto, muitas das nossas crenças e valores contemporâneos continuam enraizados em tropos dualistas que sustentam o mito da natureza como um dado adquirido, uma realidade fundamental e evidente.
Este é o esquema que sustenta a ideia de uma natureza singular e unificada sobre a qual se sobrepõem diversas culturas. Contribui para o antropocentrismo, justifica a extração ambiental e obscurece as formas complexas como a sociedade humana e a tecnologia se moldam mutuamente.
Numa altura em que a ciência se debruça sobre a inteligência que abunda em ambientes que nos rodeiam, estamos ao mesmo tempo numa corrida para despejar todo o conhecimento humano nas bases de dados de treino da Inteligência Artificial (IA). Uma IA nas mãos de um oligopólio tecnológico maioritariamente norte americano. Isto não parece correto. Não apenas no sentido em que estes modelos representam uma maior abstração de nós em relação ao mundo – embora o sejam certamente. Mas também, apesar de todos os benefícios positivos de serviços de valor, as plataformas comerciais de IA exercem um poder crescente sobre as nossas vidas e instituições. No entanto, estamos apenas no início da evolução desta tecnologia, ainda temos tempo para a reorientar para futuros mais viáveis para a vida no planeta.
Imaginar uma verdadeira ecologia da inteligência natural e artificial, baseada numa interação mutuamente benéfica, pode parecer um sonho impossível. Mas precisamos sonhar. Embora seja um potencial campo minado, a convergência de disciplinas, nomeadamente ecologia, neurociência e IA, se bem gerida e associada a melhores modelos de organização social, poderá ter um impacto positivo nas formas como a biosfera e a tecnosfera evoluem e se intersectam.
Numa altura em que um milhão de espécies se encontra em vias de extinção e os ecossistemas se aproximam do colapso, seria sensato considerarmos a intrincada rede de interdependências que sustenta a vida – e refletir sobre o facto de todas as inteligências naturais serem profundamente ecológicas.
Programa
Quarta, 15 de maio 2024, 18.30
A consciência das plantas
Monica Gagliano
Ecologista evolutiva, Professora Investigadora Associada (Adjunta) na Universidade Southern Cross, Austrália.
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Quarta, 22 de maio 2024, 18.30
Pluralizar as experiências psicadélicas
Giorgio Gristina
Doutorando Antropologia, DANT (ICS-ULisboa), Systems Neuroscience Lab (Champalimaud Centre for the Unknown)
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Quarta, 29 de maio 2024, 18.30
O Design da Inteligência Artificial e a Lógica da Cooperação Social
Matteo Pasquinelli
Professor Associado em Filosofia da Ciência na Universidade Ca’ Foscari, Veneza
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Quarta, 5 de junho 2024, 18.30
Solarpunk significa sonhar verde
Jay Springett
Estrategista e escritor
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Local: Grande Auditório Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, Largo da Academia Nacional de Belas Artes, 4, e Palácio Sinel de Cordes, Campo de Santa Clara, 142-145, Lisboa.
Entrada livre, mediante registo
Inscrições: https://www.eventbrite.pt/o/cada-6048405527
A Faculdade de Belas Artes de Lisboa tem acesso para pessoas com deficiência motora mas requer agendamento prévio para sofiaoliveira506@gmail.com.
Imagem: Design Pedro Loureiro